Carta de Paulo aos Romanos: Introdução e Características.

As cartas que Paulo escreveu para as igrejas e indivíduos para explicar melhor a boas notícias sobre Jesus Cristo são alguns dos escritos mais antigos do Novo Testamento. A Carta que Paulo escreveu para a igreja localizada em Roma é seu maior e talvez melhor esforço para explicar como as pessoas podem se tornar aceitáveis para Deus por meio do sacrifício de Jesus Cristo em favor de seus pecados.

Sobre o Autor e Título.

Como indicam as palavras introdutórias da carta, foi o apóstolo Paulo quem escreveu a Carta aos Romanos. Poucos estudiosos, ao longo da história, têm duvidado da autoria paulina, e suas dúvidas têm se mostrado infundadas. O título do livro indica que a carta foi escrita às igrejas de Roma.

Qual foi a data que Paulo escreveu a Carta aos Romanos?

Paulo provavelmente escreveu aos Romanos quando estava em Corinto, por ocasião da sua terceira viagem missionária, em 57 d.C (At 20.2-3). Depois de concluir seu trabalho na parte leste do Império Romano, Paulo esperava viajar para Roma e depois para a Espanha; porém, primeiro ele precisava ir a Jerusalém, a fim de entregar o dinheiro que havia recolhido para a igreja de lá (Rm 15.19-32). Paulo recomenda Febe; foi ela quem provavelmente levou a carta para Roma. Ela residia em Cencreia, que ficava perto de Corinto e era uma de suas cidades portuárias. Além disso, o Gaio que hospedou Paulo é provavelmente o mesmo Gaio que morava em Corinto. Por fim, dois manuscritos de Romanos, bastante antigos, trazem subscrições que dizem que a carta foi escrita em Corinto.

Qual o tema da Carta aos Romanos?

O tema de Romanos é a revelação da justiça de Deus no evangelho de Jesus Cristo – uma justiça que julga e salva. Na cruz de Cristo, Deus julga o pecado e, ao mesmo tempo, manifesta sua misericórdia salvífica.

Propósito, Ocasião e Contexto da Carta aos Romanos.

A Carta aos Romanos fornece a mais completa exposição da teologia de Paulo, embora haja dúvidas de que ele a tenha planejado como um resumo teológico completo. Por exemplo, Romanos não apresenta um estudo detalhado da doutrina paulina de Cristo, da Igreja ou das últimas coisas.

É mais provável que Paulo tenha escrito a carta para tratar de questões de interesse particular da igreja de Roma. Especificamente a uma igreja que incluía tanto cristãos judeus quanto cristãos gentios: (1) é possível ser justo diante de Deus por meio da obediência à lei? (2) o que se pode aprender de Abraão? Será que ele é pai tanto dos cristãos judeus quanto dos cristãos gentios? (3) qual é a função da lei no tocante ao pecado? O que a salvação dos gentios indica sobre o futuro de Israel como povo de Deus? Os cristãos precisam mesmo observar as leis alimentares do AT? Como eles devem se relacionar com outros crentes acerca dessas questões?

O foco em questões relativas a judeus e gentios sugere que havia tensões entre estes dois grupos na igreja de Roma. Esta provavelmente iniciara como uma igreja judaica, embora não se saiba exatamente em que momento fora fundada. É possível que tenha sido fundada pelos judeus de Roma que voltaram de Jerusalém após o Pentecostes (At 2.10),

Naturalmente, com o passar do tempo, gentios de Roma também se tornaram cristãos. O historiador romano Suetônio registra que o imperador romano Cláudio expulsou os judeus de Roma em 49 d.C. por causa de uma contenda a respeito de “Cresto”. A expulsão dos judeus de Roma é confirmada por At 18.2. Por causa da expulsão, as igrejas gentias desenvolveram-se, por vários anos, sem a presença de judeus.

Com o passar dos anos, os cristãos judeus voltaram lentamente às igrejas romanas. Não é difícil imaginar que gradualmente surgiram tensões entre cristãos judeus que observavam a lei e cristãos gentios que viviam livres das restrições da lei mosaica. Tudo indica, contudo, que a igreja era constituída principalmente de cristãos gentios.

Paulo escreveu esta carta para que os romanos estivessem unidos no evangelho que lhes fora pregado e para que compreendessem a forma como o evangelho tratava das questões que os dividiam.

Um olhar mais atento para Romanos revela ainda outro objetivo. Paulo queria que os cristãos de Roma se unissem em torno do evangelho que lhes pregara a fim de que Roma viesse a ser sua base de operações, por meio da qual ele poderia proclamar o evangelho na Espanha. Paulo precisava explicar mais detalhadamente o evangelho para que os cristãos de Roma se tornassem a base a partir da qual ele pudesse proclamar o evangelho em novas regiões.

E, certamente, o grande objetivo da pregação do evangelho é a glória de Deus. Paulo anseia que os gentios cheguem à obediência da fé por amor do nome de Cristo. Deus planejou toda a história da salvação para trazer glória e louvor ao seu nome.

Assuntos principais da Carta aos Romanos.

1. Todas as pessoas são pecadoras, portanto todos, sem exceção, precisam ser salvos dos seus pecados.

 

2. A lei mosaica, embora boa e santa, não consegue combater o poder do pecado.

 

3. Por meio da justiça de Deus, o pecado é julgador, e a salvação, concedida.

 

4. Com a vinda de Jesus Cristo, findou-se a antiga era da história da redenção e iniciou-se o novo tempo da história da redenção.

 

5. A morte expiatória de Jesus Cristo é central para o plano divino da salvação.

 

6. A justificação é somente pela fé.

 

7. Existe uma segura esperança de glória futura para aqueles que estão em Cristo Jesus.

 

8. Aqueles que morreram com Cristo e desfrutam da obra do Espírito Santo são capacitados a viver uma nova vida.

 

9. Deus é soberano na salvação; ele opera todas as coisas de acordo com o seu plano.

 

10. Deus cumpre suas promessas salvíficas tanto para judeus quanto para gentios.

 

11. A graça do evangelho chama cristãos à santidade pessoal, serviço mútuo, cidadania correta e amor sincero pelo próximo, em Cristo.

Características Literárias da Carta aos Romanos.

A Carta aos Romanos contém todas as características próprias de uma carta bíblica, incluindo saudação, ação de graças, corpo epistolar, parênese (lista de exortações morais), saudações pessoais e bênção. O que distingue a carta é seu longo corpo epistolar cuidadosamente elaborado, que apresenta um argumento teológico contínuo. Romanos é, possivelmente, dentre todas as cartas do NT, a mais bem organizada e coesa, o que ajuda a explicar sua leitura tanto como um tratado teológico quanto como uma carta. Compreender Romanos exige, pois, cuidadosa atenção aos detalhes de sua doutrina.

Como um tratado teológico, a Carta aos Romanos é um grande edifício. Ela está repleta de ideia e vocabulário altamente teológicos. A retórica é frequentemente nobre, empregando construções frasais elaboradas e modelos de repetição verbal.

O que muitas vezes passa despercebido é a contínua presença de um gênero que tende à informalidade, emprestando um vigor coloquial como contrapeso à sua excelência. Este gênero, conhecido como diatribe, era amplamente utilizado pelos mestres e oradores romanos (também conhecidos como pregadores).

Os traços deste gênero incluem: diálogo com questionadores ou adversários hipotéticos; como parte disso, construções em pergunta/resposta, por vezes semelhante, na prática, a um catecismo; uso de perguntas ou objeções hipotéticas como transição para o próximo tópico; perguntas retóricas; citações de figuras famosas e representativas do passado como exemplos; uso de analogia como recurso retórico; estilo aforístico.

A Carta está unificada principalmente pela coerência do seu argumento central, que esboça e explica o plano eterno de Deus para a salvação dos pecadores. A declaração-tema da carta alerta o leitor para o lugar central que a justiça de Deus ocupa neste plano – a justiça que Deus, por um lado, exige obediência e, por outro, oferece como um dom gratuito em Cristo, recebido pela fé.

 

Texto: Bíblia de Estudo NAA.

Leia também O são as Cartas Gerais do Novo Testamento.